Fala, pessoal!
Estamos um tanto quanto ausentes aqui do Blog do Nacional, mas também com a eliminação da equipe em todas as competições de 2011 fica complicado. Enquanto organizo matérias históricas sobre o clube, reproduzo aqui uma matéria feita com a equipe nacionalina na revista Placar no começo de 1988. Agradeço muito ao Matheus Trunk, que transcreveu a matéria para o mundo digital.
TRENZINHO DE GLÓRIAS
Campeão da Taça São Paulo de Juniores, o ex-clube dos ferroviários paulistanos sonha reviver seus velhos tempos
Por Mário Sérgio Venditti
Campeão da 19º Taça São Paulo de Futebol Júnior, conquistada no último dia 25, o Nacional conseguiu voltar ás manchetes. Afinal, a valente equipe da Comendador Souza – uma simpática ruela que termina bem em frente aos portões de sua sede, no bairro paulistano da Água Branca – desde 1972 não conquistava um título importante, justamente o da Taça São Paulo daquele ano.
Na época, comentou-se que na zebrinha entrara em ação. Poucos acreditavam que o time do goleiro Tonho e do ponta-esquerda Toninho Vanusa teria chances diante do Internacional de Falcão, Batista e Caçapava. Entretanto, os tempos são outros e o Nacional, comandado pelo atacante Mil – que terminou artilheiro do certame com sete gols -, respira novos ares.
Encerrado o ciclo de estagnação, o próximo passo é reconduzir o time principal à Primeira Divisão do Paulista, da qual despencou em 1959 e nunca mais subiu.
Seu retorno esteve bem próximo no ano passado, durante a disputa da Intermediária. Em partida decisiva contra o São José, dia 29 de novembro, no Canindé, em São Paulo, o empate deixaria o Nacional numa posição privilegiada. Um pênalti muito contestado, porém, deu a vitória ao São José e iniciou um qüiproquó entre os jogadores do Nacional, dispostos a agredir o juiz José Carlos Gomes do Nascimento. Com a derrota, o time irá amargar mais um ano longe da Primeira Divisão.
FUTURO DE CRAQUE- “Temos estrutura para disputar o Paulistão”, proclama o presidente Aírton Santiago. Ao assumir o cargo, em 1983, ele prometeu ampliar o quadro de associados. Hoje, numa área de 102.000 metros quadrados, cerca de 50 000 pessoas dão o ar colorido e festivo ao velho clube, cuja renda mensal de 5 milhões de cruzados cobre a folha de pagamento de 120 funcionários e dos 22 jogadores profissionais. “Era preciso sacudir o Nacional”, proclama o presidente Santiago.
É no velho campo do Estádio Nicolau Alayon, com capacidade para 15 000 torcedores, contudo que o clima de renovação pode ser presenciado. Ali, 250 garotos treinam vislumbrando um futuro de craque. Trabalho que faz parte da rotina da recém-criada escolinha Alfredo Ramos, em homenagem ao técnico do time titular. Ex- jogador do Santos, São Paulo e Corinthians, Alfredo chegou ao Nacional em 1961. Permanece até hoje com umas idas e vindas. “Aqui não existe política nem barganha”, garante. “Por isso se trabalha mais”.
Disciplinador, Alfredo surpreende a equipe aplicando normas nada convencionais. Com ele, jogador suspenso por levar o terceiro cartão amarelo não tem refresco: treina e acompanha a delegação. “Já vi muita gente forçar a expulsão para participar de churrascada”, afirma.
Se o treinador se tornou patrimônio do clube, o administrador Aureliano Santiago, 74 anos, é uma de suas lendas vivas. Pai do presidente Aírton, o velho Santiago é sócio desde 1927. Jamais pleiteou cargo na diretoria. “Isso aqui é espeto”, ensina.
Sua mesa de trabalho confirma. Atulhado de papéis, documentos e carteirinhas de associados, o administrador vem recebendo nos últimos tempos o auxílio da informática. “Tínhamos de modernizar os nossos serviços”, explica.
Os mais antigos frequentadores do Nacional – cientes que a modernização é sinal dos tempos – olham para trás com nostalgia. Do passado, restou apenas o velho vagão de madeira fincado no gramado do clube. Um símbolo histórico que remonta ao ano de 1903. Naquela data, um grupo de ferroviários da São Paulo Railway – companhia inglesa que operava a estrada de ferro ligando Santos a Jundiaí – resolveu fundar um clube. À luz de lampião, nascia o São Paulo Railway Foot-Ball Club, popularmente conhecido por SPR.
MAIOR PATRIMÔNIO- Com a Primeira Guerra Mundial, suas atividades permaneceram interrompidas até 1919. Ao retomá-las, o fez com o Atlético Clube inserido na sigla. Dessa época, o Nacional alimenta uma polêmica mantida até os dias atuais. “A data exata de fundação do clube é 1903”, sentencia o presidente Aureliano Santiago. Para provar, ele recorre a um antigo recibo registrando a taxa de manutenção de um sócio.
De qualquer modo, o grande momento para a vida do clube foi a doação pelo inglês Arthur Owen – superintendente da São Paulo Railway – da área onde seria erguido o Estádio Nicolau Alayon, construído em 1937, até hoje seu maior patrimônio.
Em 1946, com a empresa inglesa encampada pela Estrada de Ferro Santos a Jundiaí, a diretoria do clube decidiu optar pela mudança do nome. Em novembro daquele ano, num plebiscito organizado pelo diretor Arnaldo de Paula, surgia o Nacional Atlético Clube. Como homenagem, manteve as cores da bandeira inglesa: azul, branca e vermelha. “Estreamos o novo uniforme no segundo tempo do jogo contra o Flamengo, no Pacaembu”, recorda o velho Santiago. “Apanhamos de 4 a 2”.
COQUELUCHE DA ÉPOCA- Foi vestindo a camisa do Nacional que muitos jogadores trilharam o caminho da fama – como o zagueiro Mário Travaglini e o atual técnico palmeirense Rubens Minelli. Ou deram contribuições antes de encerrar a carreira, como Chineisinho, Gino Orlando e Romeu Cambalhota. “Foi maravilhoso defender as cores do time”, orgulha-se Travaglini. “Mas a queda para a Segunda Divisão, em 1959, nem quero lembrar”.
Quem não experimentou tamanho dissabor foi Minelli, que em 1953 atuou como meia-esquerda na equipe. “Era a coqueluche da época”, lembra. “Todos queriam jogar em nosso estádio”.
São esses sentimentos que voltam a empolgar a torcida. Com a vitória de 3 X 0 sobre o América de São José do Rio Preto, os juniores reacenderam a chama de luta no time titular. Impulsionada pela pequena e valente torcida, a equipe está confiante no retorno à Primeira Divisão. Até lá, a promessa é treinar para ganhar. Afinal, à beira de completar trinta anos afastado dos principais embates do futebol paulista, a volta seria recebida como uma glória que não cabe em trem nenhum.
(Publicado originalmente na revista Placar em 5 de fevereiro de 1988)